Santa Flor

domingo, 27 de março de 2011

Renunciar a si mesmo

                                              Renunciar a si mesmo


Pe. Raniero Cantalamessa, OFM Cap., pregador da Casa Pontifícia
O pregado oficial do Vaticano fez no último Domingo uma meditação muito profunda sobre o evangelho que afirma “… para seguir a Cristo deve renunciar a si mesmo”. Achei tão maravilhosa a reflexão do pe. Raniero Cantalamessa que quero compartilhar com você.
Se alguém quiser vir comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me
O que significa «renunciar a si mesmo»? E mais, por que se deve negar a si mesmo? Conhecemos a indignação que suscitava no filósofo Nietzsche esta exigência do Evangelho. Começo respondendo com um exemplo.
Durante a perseguição nazista, muitos trens carregados de judeus partiam de todas as partes da Europa para os campos de extermínio. Eram convencidos de embarcar por falsas promessas de serem levados para lugares melhores para o seu bem, enquanto que, ao contrário, eram levados para a destruição. Às vezes, acontecia que em alguma parada do comboio, alguém que sabia a verdade gritava às escondidas para os passageiros: Desçam, fujam. E alguns conseguiam.
O exemplo é um pouco forte, mas expressa algo sobre nossa situação. O trem da vida no qual viajamos vai para a morte. Sobre isso, ao menos, não há dúvida. Nosso eu natural, sendo mortal, está destinado a termianr. O que o Evangelho nos propõe quando nos exorta a renunciar a nós mesmos e a descer deste trem é subir no outro que conduz à vida. O trem que conduz à vida é a fé n’Ele, que disse: «Que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá».
Mas devemos fazer imediatamente uma precisão: Jesus não nos pede para renegar o «que somos», mas «aquilo no que nos convertemos». Nós somos imagem de Deus, somos, portanto, algo «muito bom», como disse Deus mesmo no momento de criar o homem e a mulher. O que temos que renegar não é o que Deus fez, mas o que nós fizemos, usando mal nossa liberdade. Em outras palavras, as tendências más, o pecado, todas essas coisas que são como incrustações posteriores superpostas ao original.
Há alguns anos, descobriram-se no fundo do mar, no mar Jônico, duas massas informes que tinham uma ligeira semelhança com corpos humanos e que estavam recobertas de incrustrações marinhas. Foram levadas à superfície e limpas pacientemente. Hoje são os famosos «Bronzes de Riace» (estátuas gregas de grande beleza, que representam dois homens, e que estão datadas no século V antes de Cristo, N. do T.) custodiados no museu de Reggio Calábria, e estão entre as esculturas mais admiradas da antiguidade.
São exemplos que nos ajudam a entender o aspecto positivo que há na proposta do Evangelho. Nós nos parecemos, no espírito, a essas estátuas antes de sua restauração.
«Renunciar a si mesmo» não é portanto uma operação para a morte, mas para a vida, para a beleza e para a alegria. Consiste também em aprender a linguagem do verdadeiro amor. Imagine, dizia um grande filósofo do século passado, Kierkegaard, uma situação puramente humana. Dois jovens se amam. Mas pertencem a dois povos diversos e falam duas línguas completamente distintas. Se seu amor quer sobreviver e crescer, é necessário que um dos dois aprenda o idioma do outro. Caso contrário, não poderá comunicar-se e seu amor não durará.
Assim, comentava, sucede entre Deus e nós. Nós falamos a linguagem da carne, ele o do espírito; nós o do egoísmo, ele o do amor. Renunciar a si mesmo é aprender a língua de Deus para poder comunicar-nos com ele, mas é também aprender a língua que nos permite comunicar-nos entre nós.
Durante muito tempo eu tinha uma idéia muito ao pé da letra em relação a renunciar a mim mesmo para seguir a Cristo, mas entendo melhor com está reflexão do pe. Raniero Cantalamessa, que a renuncia é restrita a tudo aquilo que não é original em nós, que não faze parte da nossa essência de criação, ou seja, tudo aquilo que é obra do pecado, da concupiscência da carne, do mundo e das obras do próprio demônio.
Temos que aprender a valorizar aquilo que é bom em nós, que são obras do Espírito de Deus e renunciar todas as outras obras.
Que Deus nos ajude nesta dura missão de resgatar a nossa identidade e originalidade de sermos filhos de Deus.
Deus abençoe!
Marcelo Pereira

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